Alguém me falou que gosta de mistério.
Como foi uma madrugada de insônia, entre um filme e outro, pensava um pouco no que seria exatamente esta coisa “mistério”.
Como foi uma madrugada de insônia, entre um filme e outro, pensava um pouco no que seria exatamente esta coisa “mistério”.
O dicionário online define da seguinte forma:
Significado de Mistério
s.m. Tudo que tem causa oculta, desconhecida ou é
incompreensível, inexplicável; enigma.
Conjunto de doutrinas ou práticas que apenas os iniciados podiam conhecer: os mistérios de Elêusis.
Na religião cristã, dogma, verdade de fé inacessível à razão: o mistério da Trindade.
Segredo.
Nome dado às peças de teatro da Idade Média, inspiradas em assuntos religiosos e nas quais havia a intervenção de Deus, dos santos, dos anjos e do diabo.
(Do Lat. mysterium)
Conjunto de doutrinas ou práticas que apenas os iniciados podiam conhecer: os mistérios de Elêusis.
Na religião cristã, dogma, verdade de fé inacessível à razão: o mistério da Trindade.
Segredo.
Nome dado às peças de teatro da Idade Média, inspiradas em assuntos religiosos e nas quais havia a intervenção de Deus, dos santos, dos anjos e do diabo.
(Do Lat. mysterium)
Sinônimos de Mistério
Antônimos de Mistério
Antônimo de mistério: claridade,
clareza,
transparência,
claro,
acessível
e entendível
Se fosse me deter nos sinônimos e antônimos, ficaria com o
segundo. Mas, claro que não é disto que estamos falando – escuridão ou abismo.
E sim de coração pulsante, um certo rubor, arrepio, pele, desejo, fantasias, enfim,
sensações e suas particularidades.
Bem, sou curiosa por natureza, sempre fui.
Dá pra ter todas as sensações acima com prazo de validade para o mistério?!
Dá pra ter todas as sensações acima com prazo de validade para o mistério?!
Me parece que os
homens se sentem mais atraídos pelo mistério, principalmente, os “mistérios”
que rondam uma mulher.
Me veio na mente algumas cadeiras de psicologia e alguns
trechos de Freud falando um pouco sobre o tal mistério em relação à mulher.
Encontrei o texto abaixo:
“Do homem, uma mulher só desejaria duas coisas: que a
colocasse em um pedestal de modo a confirmar seu valor como objeto privilegiado
do desejo dele; e que lhe propiciasse a única e verdadeira experiência de
plenitude a que a mulher teria direito: não o êxtase do sexo, mas o da
maternidade. A feminilidade seria uma espécie de preço pago pela mulher ao
homem, visando a obtenção do falo-filho. “A mulher freudiana é aquela que diz
‘obrigada’ ao homem”, escreveu Colette Soler.
O homem freudiano seria o narciso ferido, sempre inseguro de seu valor; eterno amante dedicado a conquistar o amor da virgem inexperiente a quem caberia, depois do casamento, reconhecer a virilidade dele. A mulher representava o objeto misterioso que, embora dependente material e juridicamente do parceiro, jamais lhe revelaria o segredo de seu desejo e de seu gozo. O homem freudiano ocupa a posição do amante e a mulher, a do objeto idolatrado. Mas para que a estratégia funcione, é essencial que a moça conserve uma aura de mistério e de estudada indiferença. Nisso consiste a mascarada da feminilidade, cuja função é ocultar a verdade do desejo e da castração femininos.
Onde se encontram, hoje, as “verdadeiras” mulheres freudianas? Teremos nós, gerações pós-feministas, esquecido os artifícios e artimanhas que nos faziam tão atraentes quanto inacessíveis para a fantasia masculina? Hoje, não nos parece que os homens é que andam arredios, ao passo que as mulheres do século XXI se comportam como guerreiras que assediam a gélida fortaleza masculina? “O que faço para sustentar meu desejo por esta que se entregou a mim desde o primeiro momento?” perguntam os rapazes de hoje que, por angústia e vingança, transformam suas amadas em grandes mães assexuadas.
A linha divisória entre homens e mulheres, pelo visto, perdeu sua antiga fixidez, trazendo mobilidade e liberdade para ambas as partes. Se o falo não é um pênis e sim um significante, seu manejo está franqueado a homens e mulheres. Só que, ao insistir em sustentar a equação pênis=falo, os homens acabam por se colocar em uma posição muito mais frágil do que as mulheres. Estas recém descobriram, por conta da própria psicanálise, que o órgão masculino só possui o valor fálico que elas lhe conferirem.
Freud estaria enganado em suas observações a respeito das diferenças entre os sexos, das quais faço aqui uma proposital caricatura? Não creio. O que ele não poderia prever é que as transformações da cultura, para as quais a psicanálise desempenhou no século XX um papel central, fariam por deslocar as mulheres de seus lugares tradicionais até exigir a construção de outra feminilidade ou, ainda mais: de outra relação dialética entre homens e mulheres.
Não é impossível então, que na medida em que as mulheres se livraram de algumas restrições sexuais e existenciais impostas pela moral vitoriana, a linha demarcatória entre a masculinidade e a feminilidade tenha se deslocado – forçando os homens, por enquanto, a jogar na defensiva. Freud já havia percebido a existência de um hiato na complementaridade imaginária entre homens e mulheres, a ponto de perguntar a sua amiga Marie Bonaparte: mas afinal, o que quer uma mulher? Pergunta que repercutiu em todas as gerações de psicanalistas, sobre tudo homens. Ora: é claro que ninguém pode saber o que deseja uma mulher. O desejo é, por definição, inconsciente. Um homem também desconhece seu próprio desejo.
Quanto ao suposto mistério do querer feminino, este que se manifesta através de fantasias triviais e de pequenas reivindicações dirigidas ao outro – bem, nesse caso qualquer mulher pós-freudiana poderia responder: eu quero o mesmo que você.
O homem freudiano seria o narciso ferido, sempre inseguro de seu valor; eterno amante dedicado a conquistar o amor da virgem inexperiente a quem caberia, depois do casamento, reconhecer a virilidade dele. A mulher representava o objeto misterioso que, embora dependente material e juridicamente do parceiro, jamais lhe revelaria o segredo de seu desejo e de seu gozo. O homem freudiano ocupa a posição do amante e a mulher, a do objeto idolatrado. Mas para que a estratégia funcione, é essencial que a moça conserve uma aura de mistério e de estudada indiferença. Nisso consiste a mascarada da feminilidade, cuja função é ocultar a verdade do desejo e da castração femininos.
Onde se encontram, hoje, as “verdadeiras” mulheres freudianas? Teremos nós, gerações pós-feministas, esquecido os artifícios e artimanhas que nos faziam tão atraentes quanto inacessíveis para a fantasia masculina? Hoje, não nos parece que os homens é que andam arredios, ao passo que as mulheres do século XXI se comportam como guerreiras que assediam a gélida fortaleza masculina? “O que faço para sustentar meu desejo por esta que se entregou a mim desde o primeiro momento?” perguntam os rapazes de hoje que, por angústia e vingança, transformam suas amadas em grandes mães assexuadas.
A linha divisória entre homens e mulheres, pelo visto, perdeu sua antiga fixidez, trazendo mobilidade e liberdade para ambas as partes. Se o falo não é um pênis e sim um significante, seu manejo está franqueado a homens e mulheres. Só que, ao insistir em sustentar a equação pênis=falo, os homens acabam por se colocar em uma posição muito mais frágil do que as mulheres. Estas recém descobriram, por conta da própria psicanálise, que o órgão masculino só possui o valor fálico que elas lhe conferirem.
Freud estaria enganado em suas observações a respeito das diferenças entre os sexos, das quais faço aqui uma proposital caricatura? Não creio. O que ele não poderia prever é que as transformações da cultura, para as quais a psicanálise desempenhou no século XX um papel central, fariam por deslocar as mulheres de seus lugares tradicionais até exigir a construção de outra feminilidade ou, ainda mais: de outra relação dialética entre homens e mulheres.
Não é impossível então, que na medida em que as mulheres se livraram de algumas restrições sexuais e existenciais impostas pela moral vitoriana, a linha demarcatória entre a masculinidade e a feminilidade tenha se deslocado – forçando os homens, por enquanto, a jogar na defensiva. Freud já havia percebido a existência de um hiato na complementaridade imaginária entre homens e mulheres, a ponto de perguntar a sua amiga Marie Bonaparte: mas afinal, o que quer uma mulher? Pergunta que repercutiu em todas as gerações de psicanalistas, sobre tudo homens. Ora: é claro que ninguém pode saber o que deseja uma mulher. O desejo é, por definição, inconsciente. Um homem também desconhece seu próprio desejo.
Quanto ao suposto mistério do querer feminino, este que se manifesta através de fantasias triviais e de pequenas reivindicações dirigidas ao outro – bem, nesse caso qualquer mulher pós-freudiana poderia responder: eu quero o mesmo que você.
E nesse caso, a diferença sexual continua um mistério – para
os homens e para as mulheres.
(Maria Rita Kehl)
















